Síndrome da Transfusão Feto-Fetal

Síndrome da Transfusão Feto-Fetal é quando fetos que dividem a mesma placenta transfundem sangue entre si, sendo um doador e outro receptor.

Dr Rafael Bruns

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Transfusão Feto-Fetal

Síndrome da Transfusão Feto-Fetal (STFF) é uma complicação que pode ocorrer nas gestações de gêmeos quando os dois fetos (bebês) estão dividindo a mesma placenta porém estão em bolsas diferentes (são as chamadas gestações monocoriônicas e diamnióiticas). A Síndrome da Transfusão Feto-Fetal ocorre em aproximadamente 5 a 20% das gestações monocoriônicas (uma placenta). Sabemos que esta Síndrome é resultado do desequilíbrio no fluxo de sangue entre os dois bebês. Por certo existem anastomoses (ligações vasculares) entre a circulação dos dois bebês existem na superfície da placenta. Em virtude deste desequilíbrio, um dos bebês irá receber mais sangue do que o outro. Dessa maneira um feto é classificado como doador de sangue e o outro como receptor. Além disso ao exame de ultrassom observa-se bebês de tamanhos desproporcionais, onde o doador é normalmente um bebê pequeno (restrição de crescimento) e o receptor um bebê grande. A melhor forma de tratamento é a terapia intra-uterina com laser.

Diagnóstico da Síndrome da Transfusão Feto-Fetal

O sinal mais precoce da Síndrome de Transfusão Feto-Feto é quando no exame morfológico de primeiro trimestre temos um feto com translucência nucal normal e outro com translucência nucal aumentada.O diagnóstico é feito o exame de ultrassom por um Especialista em Medicina Fetal. A princípio observa-se a presença de polidramnia (líquido amniótico aumentado) em uma das bolsas. Além disso a outra bolsa apresenta oligodramnia (líquido amniótico reduzido) na outra. Na bolsa com o líquido amniótico aumentado encontra-se um feto maior e com bexiga aumentada (muito cheia). Ao mesmo tempo na outra bolsa o líquido está diminuído, e a bexiga é difícil de ser visualizada (está vazia). Em contraste com gestações únicas, o critério utilizado para classificar o volume de líquido é um pouco diferente.

Muitas vezes o diagnóstico pode ser clínico, quando a altura uterina está muito aumentada. Para gestações gemelares deve-se usar uma tabela de altura uterina para gestações gemelares.

Em resumo considera-se como aumentado (polidramnia ou polidrâmnio) quando o maior bolsão vertical de líquido mede 8 cm ou mais. Por outro lado, oligodramnia (oligoâmnio ou oligodrâmnio) é quando o maior bolsão mede menos de 2 cm. A Síndrome da Transfusão Feto-Fetal pode ocorrer em gestações múltiplas com dois fetos ou mais, exemplo trigêmeos, quadrigêmeos, etc. Entretanto para isso ocorrer é necessário que dois fetos estejam compartilhando a mesma placenta.

Síndrome da Transfusão Feto-Fetal

Feto doador x feto receptor

Na Síndrome da Transfusão Feto-Fetal se for adotada uma conduta expectante (ou seja, não fazer nenhum tipo de tratamento) a mortalidade pode chegar a 100% para os dois bebês. Contudo, se for realizado um tratamento dentro do útero (as chamadas condutas invasivas), podemos conseguir uma redução desta mortalidade. Como terapias existentes nós poderíamos citar a amniocentese seriada (retirada de líquido da bolsa amniótica através de uma agulha) e o tratamento com laser (cauterização) dos vasos (artérias e veias) comunicantes.

Anastomoses Placentárias na Transfusão Feto-Feto

Ilustração das anastomoses (ligações) vasculares entre os fetos. O fluxo sangüíneo vai preferencialmente de um feto (doador) para o outro (receptor). Nesta ilustração a placenta, o cordão e alguns vasos estão apagados. As anastomoses (indicadas com a seta) estão em maior realçe.

Tratamento da Síndrome da Transfusão Feto-Fetal

A amniocentese seriada tem por objetivo diminuir o risco de parto prematuro através da redução do volume de líquido amniótico da maior bolsa amniótica (bebê receptor). Este procedimento é realizado tantas vezes quantas forem necessárias, e a freqüência com que será realizado depende da rapidez com que ocorra novamente o acúmulo do líquido na bolsa amniótica. Dessa forma, a amniocentese seriada está associada a taxas de sucesso de 66% (para 1 sobrevivente). Entretanto há um risco de paralisia cerebral de 15%.

Por outro lado, o tratamento com Laser tem por objetivo interromper a troca sangüínea entre os dois bebês. Esta terapia apresenta taxa de sucesso de 85% (sobrevivência de pelo menos um dos fetos) e em torno de 4% de paralisia cerebral.

As informações aqui apresentadas são de maneira resumida. Para maiores esclarecimentos sobre esta Síndrome é importante consultar um Especialista em Medicina Fetal.

Diagnósticos Diferenciais da Síndrome de Transfusão Feto-Fetal

Algumas complicações das gestações gemelares podem co-existir com a síndrome de transfusão feto-fetal ou mesmo se confundir com ela. Dois diagnósticos diferenciais são importantes de se ter em mente quando temos um caso de transfusão feto-fetal:

  • Restrição de Crescimento Seletiva – quando em uma gestação monocoriônica um feto cresce de maneira adequada e outro tem crescimento restrito;
  • Sequência de Anemia-Policitemia em Gêmeos – situação também caracterizada pela transfusão de sangue de um gêmeo para o outro, porém de forma crônica.

Referências

  1. Senat MV, Deprest J, Boulvain M, Paupe A, Winer N, Ville Y. Endoscopic laser surgery versus serial amnioreduction for severe twin-to-twin transfusion syndrome. N Engl J Med. 2004 Jul 8; 351(2): 136-44.
  2. Quintero RA. Treatment of previable premature ruptured membranes. Clin Perinatol. 2003 Sep; 30(3): 573-89.
Categorias: Dúvidas, Gestantes
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