Publicada a primeira evidência de transmissão vertical do coronavírus

Apesar de improvável e com poucas evidências até o momento, a transmissão vertical do coronavírus (da mãe para o feto) foi relatada pela primeira vez.

Dr Rafael Bruns

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Considerando a atual pandemia de coronavírus que atinge o mundo, obviamente uma grande preocupação é como o vírus poderia afetar as gestantes. Consequentemente uma dúvida que todos tem é se o vírus poderia ser transmitido da mãe para o feto.

Já publicamos anteriormente um post com recomendações gerais para gestantes sobre o coronavírus e um breve vídeo sobre o comportamento da doença em gestantes. Recentemente uma mensagem de WhatsApp tem sido distribuída em grupos médicos sobre a primeira evidência de transmissão vertical (da mãe para o feto) do coronavírus. Neste post agora vamos dissecar o que encontramos nessa publicação.

Trata-se de um relato de caso, entitulado Transplacental transmission of SARS-CoV-2 infection. O artigo ainda encontra-se sob revisão para publicação. O relato, resumidamente, informa sobre o caso de uma primigesta de 23 anos admitida no hospital com 35 semanas de gestação e com quadro de infecção por COVID-19 confirmado por teste laboratorial.

Em função de um teste de vitalidade fetal alterado (cardiotocografia) a paciente foi submetida a uma operação cesariana. Durante a cesárea foi coletada uma amostra de líquido amniótico que testou positivo para os genes E e S do SARS-CoV-2.

O recém nascido necessitou de reanimação, necessitando de entubação nas primeiras horas de vida. Testes realizados com material coletado do recém-nascido também foram positivos. No segundo dia de vida o RN apresentou um quadro de irritabilidade, hipertonia e opistótono. Houve uma melhora progressiva desta sintomatologia nos três dias seguintes. Uma ressonância realizada identificou um quadro de gliose bilateral. O recém nascido teve uma melhora progressiva recebendo alta no 18º dia de internamento.

transmissão vertical do coronavírus

Outras evidências da transmissão vertical do coronavírus

Colegas do Peru também relataram reação positiva em cadeia da polimerase (PCR) para SARS-CoV-2 no soro de um recém-nascido, amostra coletada 16 horas após o nascimento. Publicado no American Journal of Perinatology, o caso pode representar transmissão vertical no útero, embora nenhum teste tenha sido feito para a presença do vírus no líquido amniótico, sangue do cordão umbilical ou tecido placentário.

Em outro comunicado, pesquisadores do Hospital Infantil de Wuhan, em Wuhan, China, forneceram informações sobre a infecção por SARS-CoV-2 de início precoce em neonatos. O relatório aparece na JAMA Pediatrics.

No hospital, os autores trataram 33 recém-nascidos de mães com COVID-19. O relato deles descreve os resultados em três dos neonatos que também foram diagnosticados com o vírus. Os dados incluídos foram coletados de janeiro a fevereiro de 2020.

Estes relatos são motivo para pânico?

Definitivamente não. Considerando o grande número de infectados pelo COVID-19 no mundo até o momento, os relatos de transmissão vertical ainda são em pequeno número. Então, caso isto seja confirmado no futuro, a transmissão vertical não é comum. Além disso o quadro apresentado pelos recém nascidos é de boa evolução.

Em vários dos casos acima a transmissão vertical é apenas sugerida pelo fato do recém nascido apresentar teste positivo nas primeiras horas de vida. Também precisamos considerar que existem artigos publicados demonstrando a ausência do vírus em líquido amniótico, secreção vaginal e leite materno – o que é uma forte evidência contra a transmissão vertical.

O fato é que estamos diante de uma doença nova, causada por um vírus ainda não muito conhecido. As razões pela qual o vírus poupa bebês, crianças e gestantes ainda não são claras.

Categorias: Artigos, Médicos
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