Peritonite Meconial

A peritonite meconial constitui uma reação exsudativa inflamatória peritoneal de origem química, secundária a uma perfuração intestinal.

Dr Rafael Bruns

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A peritonite meconial constitui uma reação exsudativa inflamatória peritoneal de origem química, secundária a uma perfuração intestinal, sendo o íleo o local mais freqüente. Incide em 1 de cada 30.000-35.000 nascimentos, descrevendo-se, em geral, uma relação sexo masculino/feminino de 1,5/1.

As perfurações intestinais intra-útero podem ser decorrentes de obstruções intestinais (atresias, má-rotação intestinal com vólvulo, íleo meconial, hérnia interna, bridas e acidentes vasculares mesenteriais) e, também, de perfurações espontâneas (apêndice cecal, divertículo de Meckel, duplicação intestinal, úlcera duodenal, ou perfuração iatrogênica devido a amniocentese).

Nos últimos anos o diagnóstico pré-natal da peritonite meconial tem sido mais comum, devido à presença de achados ultrassonográficos de polidrâmnio, ascite fetal, dilatação de alças intestinais e calcificações. O diagnóstico diferencial deve ser feito com hidropisia fetal, linfangioma cístico, ascite urinosa, teratoma e tumores vasculares.

A peritonite meconial pode ser generalizada quando a perfuração ocorre poucos dias antes do nascimento, causando reação inflamatória recente na cavidade abdominal, com ascite volumosa misturada ao mecônio extravasado das alças perfuradas, aderências frouxas e, raramente, calcificações finas e escassas; pode ser fibroadesiva, a mais comum, quando a perfuração ocorre em uma fase precoce da vida intrauterina e, portanto, a reação peritonial é mais intensa, apresentando alças intestinais aglutinadas, com aderências fibrosas, formando carapaças com calcificações grosseiras e volumosas, sendo o local da perfuração dificilmente identificado; finalmente, pode ser cística quando o orifício da perfuração intraútero não é bloqueado ou cicatrizado e, portanto, o mecônio continua sendo extravasado da alça para a cavidade. Formam-se pseudocístos ao redor da coleção de mecônio, sendo suas paredes formadas por alças intestinais aderidas, revestidas por densa fibrose, delimitando uma área cistica e deixando o restante da cavidade livre. O quadro clínico varia, conforme o tipo de peritonite meconial. É freqüente o diagnóstico passar despercebido, pois, em alguns casos, o orifício da perfuração se cicatriza e a mãe auxilia a criança a resolver, adequadamente, a peritonite causada intra-útero e, portanto, não existe reação peritonial importante envolvendo alças ou mesmo o trânsito intestinal.

Tardiamente, os sintomas podem aparecer quando aderências ou bridas obstruem o trânsito intestinal, ou mesmo em achado ocasional, quando da realização de exame radiológico de abdome, mostrando calcificações finas depositadas nas bordas hepáticas ou seguindo as paredes abdominais.

Ao nascer, o RN pode apresentar estado geral satisfatório, principalmente quando a perfuração é mais precoce, embora apresente distensão abdominal muito grande, especialmente, nos casos de ascite peritonial e pseudocisto. Pode haver eritema e edema de parede abdominal, dependendo do comprometimento das alças e da reação inflamatória provocada. Geralmente, nos casos de perfuração tardia, próximo ao parto, o estado geral pode estar seriamente comprometido, principalmente, quando há contaminação da peritonite estéril, nas primeiras horas de vida.

O diagnóstico precoce da perfuração intra-útero é de fundamental importância e pode evitar a formação de peritonite plástica.

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